A 2ª Mostra Piranhão de Cinema, com a temática “MARGEM”, propõe uma reflexão profunda e multifacetada sobre os espaços limítrofes da sociedade e do cinema. A escolha dessa temática não é apenas simbólica, mas uma celebração das bordas e fronteiras – sejam elas geográficas, sociais ou culturais – que são muitas vezes negligenciadas ou marginalizadas.
“MARGEM” se desdobra em uma exploração dos rios e suas beiradas, das linhas que dividem nações e das zonas férteis e criativas que existem além do mainstream. Essa confluência busca investigar os caminhos que levam as narrativas visuais até aqui — o nosso cinema nacional, nordestino, piranhense.
O homenageado da Mostra Piranhão de Cinema 2024 é Nêgo Bispo, teórico e quilombola fundamental para o pensamento contemporâneo. Sua contribuição inestimável e revolucionária abre debates, explora sentidos e conversa com a nossa forma de ser sujeito e ser coletivo.
A presente edição, a partir do conceito de Nêgo Bispo sobre “começo, meio, começo”, entende que a margem é um ponto de partida contínuo, uma zona fértil de inícios permanentes, onde cada fim é também um novo começo. Na visão de Bispo, a linearidade do tempo ocidental – começo, meio e fim – é substituída por uma ciclicidade que valoriza o eterno retorno, o renascimento e a regeneração.
Neste contexto, a Mostra Piranhão se propõe a trazer à luz essas histórias e experiências, enfatizando a importância de dar voz e visibilidade àqueles que vivem e criam nas bordas, onde cada narrativa é um recomeço e cada filme é um renascer de ideias e perspectivas.
Habilitação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Piauí – UFPI – 2015); Especialização em Direitos Humanos (Faculdade Adelmar Rosado – FAR – 2017), com pesquisa nas áreas de Direito à Cidade, cultura, ocupação de espaços públicos e intervenções urbanas através da arte; Realização Audiovisual (Escola Pública de Artes Vila das Artes – 2019/2022) Trabalha com audiovisual desde 2017 e com cinema independente desde 2018.. Possui contribuições em produções cinematográficas e audiovisuais principalmente no eixo Piauí-Ceará-Maranhão, atuando como Diretora de Fotografia, Assistente de Fotografia, Still, Continuísta, Produtora, Produtora Executiva e Diretora.
Teve seus primeiros contatos com o Cinema na graduação de Comunicação da Universidade Federal do Piauí e em cursos técnicos na Casa da Cultura de Teresina. Em 2016, contribuiu com a criação do selo Labcine, hoje Labcine Filmes, com foco no fomento e realização audiovisual local. Através de núcleos de produção, realizou um longa e mais de 20 curtas, entre ficções, documentários, videoclipes, institucionais, selecionados em festivais pelo mundo. Produz conteúdo para canais de TV, como Futura disponíveis em plataformas de streaming como GloboPlay, Itaú Cultural Play, Spcine Play e Todes Play. Cine educador com foco em oficinas de realização audiovisual para crianças, jovens e adultos de comunidades periféricas do Norte/Nordeste em projetos como Era Uma Vez Brasil…, e foi curador no I Festival Humana de Cinema e I Mostra Piranhão de Cinema
Roteirista, produtora e curadora há 4 anos, formada pela Escola de Cinema do Maranhão e pelo Instituto de Cinema de São Paulo. Trabalhou em videoclipes, curtas e longas, como “Ginga Reggae” e “Amo, Poeta e Cantador”, este vencedor da categoria Melhor Documentário do Prêmio Volts em 2022. Em 2023 teve seu primeiro roteiro de longa-metragem “Mesa Pra Uma” sendo premiado nos Laboratórios: Negras Narrativas Amazônicas, em Belém e GiraAfro.Lab, no Rio de Janeiro.
É também curadora criativa da Badauê, além de ter sido a curadora oficial do Festival de Cinema da Ilha em 2022, da Mostra Piranhão de Cinema, em 2023 e da Mostra Audiovisual Afro-Amazonas, em 2024. Atualmente presta serviço como roteirista para projetos audiovisuais e está em processo de desenvolvimento do seu primeiro longa-metragem.
Graduada em Engenharia, com especialização na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, em Cuba, e mestrado em Comunicação. Professora e pesquisadora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília de 1993 a 2018. Cineasta, com ênfase no cinema documentário. Na pesquisa, as principais áreas de interesse são: cinema e memória, políticas de comunicação audiovisual e políticas culturais.
Jornalista nascida e criada no Piauí. Documentarista itinerante, destaca-se na direção e roteiro em projetos para Canal Futura, TV Globo/Profissão Repórter e GNT. Diretora criativa e roteirista na LabCine Filmes.
Jornalista, escritor, diretor, roteirista e produtor visual. Já trabalhou como crítico de cinema nos jornais Meio Norte, Diário do Povo e O Dia, além das colunas nos sites Acesse Piauí e Agenda Cultural. Monteiro Júnior é professor de cinema da Fundação Cultural Monsenhor Chaves e fomentador de cursos sobre audiovisual. O cineasta é também escritor e já publicou os livros “As sete vidas do gato” (1998), “A obscuridade humana” (1999), “O confidente” (2003). No cinema ele já dirigiu os filmes “No meio do caminho” (2004), “Insone” (2005), “Dona Maria” (2010) e “Qualquer hora dessas” (2012) e o Estalos (2023). Fora isso, Monteiro tem uma vasta obra no audiovisual realizado como finalização dos cursos e oficinas aplicados por ele. Suas obras já circularam diversos festivais de cinema pelo país, inclusive conquistando premiações e a crítica especializada.
Roteirista e estudante de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Possui formação profissional em Roteiro pelo Centro Afrocarioca de Cinema (RJ). Curadora na Mostra CineAfromar (MA) – primeira mostra de Cinema Negro do Maranhão – trabalha também como professora de roteiro e linguagem audiovisual. Pesquisa sobre Cinema Negro e faz parte da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro). Como roteirista de não-ficção e ficção infanto-juvenil ganhou prêmios no Películas Negras LAB (BA/Saturnema Filmes) e no Festival Cabiria (RJ).
BACULEJO
DIREÇÃO: Lucca Truta, HeraDaLua,O Shoock, Da Cor do Barro, Koubie
CONTATO: 98 98600-7774
EMAIL: oshoockslz@gmail.com
SINOPSE:
Com elegância, a obra retrata o cotidiano do jovem negro brasileiro, que transita entre as glórias e as batalhas da vida periférica. Baculejo, gravado no bairro Nova Aurora, na periferia de São Luís, Maranhão, é também uma homenagem ao mestre Cartola e ao fotógrafo Walter Firmo.
NOSSA OPINIÃO
O título do videoclipe diz tudo, sua representação energética e cultural dos elementos de autenticidade e expressão pessoal que traz. O cotidiano urbano e as identidades individuais, sob um prisma muito específico. Você sai de casa já sabendo que será abordado, talvez até morto, por causa de uma construção social estereotípica em torno da cor da pele. Da cultura na qual está inserido. Mas o medo é combatido aqui com resistência e autoafirmação. No trap ou no hip hop, marcado por batidas rítmicas e uma linha de baixo profunda. Os elementos eletrônicos criam uma atmosfera que reforça o tom visual do clipe, e a cadência da batida dá essa sensação de urgência. Urgência no que deve ser dito. No que não pode ser calado. A paleta de cores intensas ressalta os contrastes. As ruas, os prédios, os muros grafitados, elementos que simbolizam a cultura periférica sob a mira de uma sistemática de violência fascista legalizada. A cerveja no copo de whisky, as referências do Uncle Sam, uma provocação proposital e uma maneira de contextualizar o micro no macro. Só se contextualiza o mal quando se desiste de combatê-lo. Não é o caso desse choque. Resistência e autoafirmação. A estratégia que incomoda.
BANZO
DIREÇÃO: Nilce Braga
CONTATO: 21 981480353
EMAIL: nilcebraga@yahoo.com.br
SINOPSE:
Há um lugar no Brasil onde a maior festa do ano não é o Carnaval, mas sim uma festa de devoção, de fé, da paga de promessa, onde reina a encantaria e se guarnece na gira dos caboclos, encantados, no admirar o amanhecer nos olhos e no brincar do boi. Os filhos deste lugar quando lá não estão nestes tempos de festejos, mergulham no banzeiro grande, e de algum jeito por águas, matas, chãos ou em si mesmos retornam no banzo ao seu terreiro, ao terreiro afro-indígena Maranhão.
NOSSA OPINIÃO
A identidade racial hoje é uma jornada de autoconhecimento. Exige, por um lado, lidar com a dor histórica e, por outro, celebrar a força e a resiliência herdadas. O banzo, termo historicamente associado à melancolia e saudade experimentadas pelos africanos escravizados no Brasil, continua a reverberar. Ecoa na tentativa de se recolocar e ressignificar seu lugar no mundo. Seu lugar dentro de si próprio. O ensaio audiovisual de Nilce Braga vibra nessa frequência. Parte de uma reflexão com pegada acadêmica e se costura à poética das imagens. Ela monta uma metáfora para os sentimentos de perda. Muitas vezes em interditos, não ditos, elipsados entre os cortes. Rumo a uma potência de encontro, reencontro, a consciência de quem se é. No instante e no contexto. Sentir a força do presente e das possibilidades. Mas sem isolar o passado como parte dessa construção. O mar e o que ele trouxe.
BYE
DIREÇÃO: Vitória Campos
CONTATO: 98 991018966 / Thiago Dosaro
EMAIL: thiagodosaro@gmail.com
SINOPSE:
As idas e vindas de um casal que se sentiam incompreendidos e incapazes de continuar uma relação. A faísca de amor ainda ronda entre eles, mas no final do dia sempre acabam um pra cada lado.
NOSSA OPINIÃO
Às vezes, ou mais do que às vezes, um videoclipe musical (ainda se usa esse termo?) possui insuspeita relevância histórica e cultural. Fora, claro, a música em si, o design estético-narrativo, o carisma cênico, no caso aqui, do trio de intérpretes-compositores. Lucca Truta, Deon, Kaminski. A obra é egressa da primeira turma de “Produção de Videoclipe” (sim, ainda se usa esse termo!) da Escola de Cinema do Maranhão. Dirigida por Vitória Campos, estudante de Jornalismo mas futura realizadora audiovisual de mão cheia, a produção é uma peça reggaeira que flutua pela Ilha de São Luís. Ao mesmo tempo que presta justíssima homenagem a Nega Glícia, importante figura do reggae feminino da Jamaica Brasileira, falecida em fevereiro. Com pitadas sonoras de afrobeat e hip-hop, a música é um desbunde da negritude maranhense raíz que se autoafirma e se empodera nos elementos que lhe são caros e próximos. Um deleite de imagens, sons e, acima de tudo, celebração identitária.
GINGA REGGAE
DIREÇÃO: Nayra Albuquerque
CONTATO: 98 989051109
EMAIL: nayra.albuquerque@gmail.com
SINOPSE:
Ginga Reggae é um documentário musical que conta a história da cultura reggae na ilha maranhense, conhecida como Jamaica Brasileira, através da perspectiva e história de vida de Célia Sampaio, considerada a grande “dama do reggae” no Maranhão. O filme apresenta estéticas da dança, das cores e maneiras de ser da cultura reggae, encontrando territórios de resistência negra. Com participação de Magno Roots, Natty Nayfson e Professor Carlão.
NOSSA OPINIÃO
Há quem não saiba que a Ilha de São Luís é também conhecida como a Jamaica Brasileira? Por via das dúvidas, Nayra Albuquerque celebra essa história no som que resgata culturas ancestrais para criar e fortalecer a sua própria identidade. E usa a icônica figura de Célia Sampaio, a Dama do Reggae maranhense, embora traga outras figuras de importância histórico-narrativa, como linha mestra do didatismo desse documentário musical. Didatismo muito bem-vindo e costurado, é necessário dizer. Saber as origens dos termos “melô” e “pedra” é tão fascinante quanto ouvir como Jimmy Cliff visitou São Luís e a batizou com o seu famoso codinome musical. “(…) uma pedra na moleira do regueiro.” As pedras que eu escuto nunca mais serão as mesmas. O filme não faz firulas narrativas. É um documentário expositivo, com inserções performáticas de Sampaio, que preenche bem seus 51 minutos, ainda que, pelo recorte e pelo escopo, pudesse ter exercitado a concisão. Mas mergulha no tema e emerge desconstruindo paradigmas ultrapassados acerca do reggae enquanto discurso social e fenômeno cultural. Sem falar na belíssima junção com a religião umbandista. Não tenho dúvida de que os Encantados do Maranhão curtem uma pedrada. Sobretudo quando promove a paz, a liberdade e o amor entre as pessoas.
ITAPERAÍ
DIREÇÃO: Gê Viana e Iagor Peres
CONTATO: 98 981803840
EMAIL: geviana.performanceart@gmail.com
SINOPSE:
No meio da noite cruzando a paisagem. Costurado nas vestes dos Cazumbas. Nos
corpos celestes, nas marés e nas festas. O foguete. A jóia. Os fogos e a pólvora. Na
fotografia, esse mesmo corpo tensiona sua presença na imagem ao criando um
buraco gerado pelo excesso do mesmo fator que também o destacaria, o brilho.
Com imagens analógicas e digitais o curta, Itaperaí, pretende um olhar através
desse ente-luminoso. Por meio de uma narrativa que mistura documental e ficção,
conta a história do brilho como um instrumento de encantaria que costura desde os
acontecimentos naturais das paisagens, ao brilho provocado pela pedraria e corpo.
NOSSA OPINIÃO
Tela preta: “Marlene. Te escrevo daqui de onde não dá pra ver todas as coisas. Mas é possível sentir tudo.” Assim começa o curta de Gê Viana e Iagor Peres. Com as legendas surgindo sem o “voice over” que comumente viria. E essa opção não só reverbera pela narrativa inteira, mas costura e presenteia o tom da obra. As imagens vão construindo um místico mosaico maranhense, até chegar nos personagens humanos. Incluindo a Marlene para a qual parecem se dirigir as legendas silenciosas. O boi, o brilho, o Maranhão encantado. Há um universo oculto se desfolhando na montagem. Na construção das imagens pontuadas pelas legendas. Cujo ritmo e cuja própria atmosfera respondem a elas, à sua métrica, à sua evocação. Enquanto seguimos o brilho dos encantados. É então que se percebe o que é óbvio desde o início, desde a primeira tela preta. Não são meras legendas sem narração. São versos de uma diegese poética. Nos conduzindo pelo fascínio da cultura versificada.
MAR.INA
DIREÇÃO: Coletiva
Direção coletiva – Integrantes do curso de direção cinematográfica do projeto Ilha em
Edição 2. Primeira produção audiovisual de alguns deles e outros já haviam participado de
cursos de formação audiovisual no estado.
CONTATO: 98984201204
EMAIL: formacao@formacao.org.br
SINOPSE:
Mar.Ina é uma paródia-crítica da pequena sereia vivida por uma menina trans.
Marina, que é cazumba, personagem do bumba-boi que também é de entremundos. Um menino da percussão, Nicolas, observa Marina dançando e se interessa. Pega de surpresa,
Marina foge sem revelar sua identidade. No outro dia, eles se cruzam, mas Nicolas pensa que a cazumba é outra menina, uma cis. Marina começa a se questionar sobre sua imagem de trans não binária e, como a pequena sereia, “muda de forma”. Suas amigues e seu cazumba (seu alterego) a ajudam a reencontrar suas essências.
NOSSA OPINIÃO
A Pequena Sereia-Cazumbá e o Príncipe do Bigode Loiro. Entrelace do conto de fadas de Hans Christian Andersen e do folclore maranhense. Encobrem a unidade temática do curta com um véu de misticismo realista. A sereia quer amor, ser amada como ela é, mas o que atrai é a curiosidade do príncipe. Sereias devem ser desejadas por sua essência, não por um apelo exótico. E a delicadeza do filme em desnudar o íntimo de um sentimento transcende a própria realização. A coletividade da direção é fluida. Encontra sua consistência na desenvoltura palpável do elenco. Principalmente na sereia-cazumbá de Carlos Caique. Na naturalidade como diz as falas rebuscadas, na maneira como passa fortaleza e fragilidade pelo olhar. O olhar que desbloqueia a empatia em tempos tão difusos, tão secos de afeto. Uma atuação que grita em nuances. Num filme a permear o imaginário para emoldurar o real. Tocante. Humanista. Uma ode ao direito da autoafirmação. Ao direito da nossa própria identidade.
NÃO POSSO PARAR
DIREÇÃO: Ingrid Barros
CONTATO: 98 982433066
EMAIL: ingridrabarros@gmail.com
SINOPSE:
“Não posso parar” faz parte do álbum visual “Corpo Aberto” do cantor e compositor Paulo César Linhares, ou Paulão, de São Luís Maranhão.
NOSSA OPINIÃO
Simbiose entre Música e Dança. Entre o Contemporâneo e o Ancestral. A direção de Ingrid Barros se concentra na harmonia entre o ritmo da canção e os movimentos de Dallyla Amazzymba. Essa sincronia é o que produz o fluxo emocional e narrativo do clipe. A dança de Dallyla me parece evocar toda uma ancestralidade latente. A praia, a luz, a cor, o flow. Tudo enfatiza esses elementos que evocam uma sensação de conexão com a história e a herança cultural. O figurino provavelmente complementa essa temática ancestral. Escolhas visuais e estilísticas nunca derivam à toa. Na semiótica, tudo comunica. Cada detalhe da produção transmite uma mensagem. Movimento e conexão com as raízes culturais.
ONÇA
DIREÇÃO: Keyci Martins
CONTATO: 55 98 8263-4525
EMAIL: turiafilmes@gmail.com
SINOPSE:
“Onça” é um mergulho nas memórias afetivas da diretora e roteirista Keyci Martins, que revive os feriados de Páscoa no Povoado de sua familia. Sob a liderança de seus avós, a família se reúne em torno de tradições que preservam a cultura maranhense. Pela primeira vez desde o falecimento de sua avó, a família se reencontra, celebrando não apenas as tradições familiares e religiosas, mas também o valor das histórias locais e a riqueza de uma vida simples e autêntica no interior de Itapecuru-Mirim, Maranhão
NOSSA OPINIÃO
“A maior dor pra quem tem a necessidade de fazer um filme é querer contar uma história e não ter as imagens pra isso.” Keyci Martins possui a necessidade do registro dentro de si. Às vezes se debate contra isso. É pecado filmar a avó morta? Não o é eternizar uma memória. As sensações de lembranças distantes, tão pertas aqui. A tradição da família na Semana Santa atropelada pelo roteiro da vida. Esse é um filme sobre o filme que não teve tempo de acontecer. Costura de imagens cruas de um álbum de família com toda a poética narrativa. A necessidade de fazer um filme. Sem as imagens planejadas. Mas com as imagens que tentam traduzir o que não se vê. A presença da ausência. O filme nascido do filme que não pôde nascer. Um relato metalinguístico, sensível, emocional. “Pra saber quem você é, é preciso voltar pra casa.”
86 BILHÕES
DIREÇÃO: Gabriela Coelho
CONTATO: (89) 994363288
EMAIL: coelhogabriela.r@gmail.com
SINOPSE: “86 Bilhões” explora a vida cotidiana de Olívia, uma jovem que vê sua existência virar de ponta-cabeça após um acidente doméstico. Lutando para equilibrar o ocorrido e as demandas desinteressantes da vida, Olívia encontra refúgio no lar de uma amiga, Clara.
Será que ela consegue dar conta da vida?
NOSSA OPINIÃO
“86 Bilhões”, de Gabriella Coelho, proporciona a continuidade dos temas de “
Estalos“, onde a vida cotidiana de Olívia, uma jovem que vê sua existência virar de
ponta-cabeça após um acidente doméstico. Enquanto a figura de Estalos se vê no
embate externo contra a cidade, a construção de Olívia implode o conflito contra aurbanidade dentro da imersão do home office – em “86 bilhões o filme dissolve as
bordas entre a vida externa e a vida íntima, que se misturam indefinidamente.
ANTONICO
DIREÇÃO: Luzia Stefany
CONTATO: (86)981396437
EMAIL: stefanymonteirojornalismo@gmail.com
SINOPSE: O documentário retrata a vida de dois idosos piauienses cujos avós são sobreviventes da Seca de 1932, evento de escassez do abastecimento de água que resultou na migração de povos do Nordeste do Brasil. Os personagens vivem no povoado Antonico, localizado na cidade de Santa Luz, região Sul do Piauí, e refletem acerca das mudanças sociais vividas através das políticas públicas nas últimas décadas.
NOSSA OPINIÃO
O panorama de filmes situados a partir do Piauí, na Mostra Piranhão de 2024, produz um mosaico de imagens que nos transporta até a beira das estradas, rumo ao interior. Esse lugar interno pode ser visto como o próprio território, onde compartilhamos o chão, ou, como os efeitos das memórias de exílio, resistência comunitária e migração dentro do psicológico coletivo de pessoas que vivem entre Maranhão e Piauí. É uma constante, dentro da Mostra Piranhão, vislumbrarmos filmes que tratam da sensação de deslocamento. Deslocamentos movem personagens do Piauí, gerando a sensação de “entroncamento“, onde relações entre os modos de vida de quem vive em trânsito são reordenadas e levadas a um limite. Entroncamento é um nome comum entre as rodovias que ligam o Maranhão com o Piauí, relativo ao encontro de estradas. Esse caminho nos carrega até a sessão Piauí de 2024. Em “Antonico: por onde andam os migrantes nordestinos?“de Luzia Stefany, ouvimos o ponto de vista de quem não migrou para o sudeste. Os relatos de quem ficou iluminam as memórias dos ausentes. O gesto de fabular auto-ficções sobre o que teria sido diferente na trajetória da família de “Antonico“ toma conta dos depoimentos que preenchem o filme. O documentário entrega uma paisagem que se entrelaça intimamente com as figuras de Carmelita e João Siqueira – o filme não deixa lacunas de que, para a dupla, a possibilidade de manutenção da vida é permanecer junto de suas raízes.
BELA FLOR
DIREÇÃO: Jamile Jah
CONTATO: 86988409687
EMAIL: Jamilejahband@gmail.com
SINOPSE: Bela-Flor” transcende os limites da música e mergulha profundamente nos sentimentos mais puros e nobres do coração humano. Com letras que celebram o amor em sua forma mais delicada e sincera, esta canção é uma homenagem à beleza da vida e ao poder transformador do afeto.
O clipe de “Bela-Flor” complementa a mensagem da música, visualmente retratando a conexão entre do amor e o cuidado. Personificado através de uma flor, onde o personagem contracena com ela e mostra a transcendência desse afeto, desse amor e cuidado no cotidiano.
O clipe conta com a atuação do Alisson de Carvalho e Direção de Jamile Jah, que também assina os vocais da canção.
NOSSA OPINIÃO
“Bela Flor“, de Jamile Jah, é um videoclipe delicado, que atribui gentileza aos gestos de um homem negro que vislumbra um girassol. A letra da canção que ecoa durante as cenas reforça a mensagem de paz transmitida no clipe, atribuindo afetuosidade ao gesto de plantar uma flor.
D’AFRIKA
DIREÇÃO: Chico Rasta
CONTATO: 86 999120560
EMAIL: jvictorgeo27@gmail.com
SINOPSE: A comunicação nunca se limitou a fala, temos diversas formas de se comunicar, para a espiritualidade Yorubá, Exu é o Orixá responsável pela comunicação. D’Áfrika é um portal de comunicação no universo do audiovisual, um compilado de expressão, movimento, cor, mistério e beleza que remetem ao intermediário entre o plano físico e o espiritual, saindo um pouco da ideia da Wakanda ‘hollywoodiana’ e adentrando na Aruanda cultuada na diáspora, D’Áfrika consigo a ideia de lembrarmos quem somos, porque somos e para que somos.
NOSSA OPINIÃO
O videoclipe afirma a presença de corpos negros em libertação estética e narrativa através das telas, incorporando simbologias e elementos que encenam os itans dos Orixás em terra. O videoclipe acerta em suas escolhas de imagem, compondo uma grande floresta que sustenta as linhas de força da história com axé.
EM CENA….
DIREÇÃO: Everton Lucas
CONTATO: (11) 932237414
EMAIL: contatoevertonlucas@gmail.com
SINOPSE: No sertão do Piauí, uma comunidade registrou uma grande quantidade de nascimentos de pessoas surdas durante anos. Com o isolamento e falta de acesso ao ensino de Libras, surdos e ouvintes desenvolveram, de forma espontânea, sua própria língua de sinais: a Cena.
NOSSA OPINIÃO
“Em Cena: A Vida em Várzea Queimada“, de Everton Lucas, é a próxima parada da sessão. Um filme centrado nos depoimentos da comunidade surda de Várzea Queimada, zona rural do município de Jaicós. A câmera, em momentos diversos do filme, assume um lugar de intimidade na rotina das pessoas: seja situada no chão, durante uma conversa, ou, ao pé da rede de balanço de uma das entrevistadas. Recortes de entrevistas e paisagens da Várzea constroem o ritmo do documentário, onde nos tornamos ouvintes de histórias familiares que reinventaram ferramentas de fala através do cuidado comunitário e do roçado.
ESTALOS
DIREÇÃO: F. Monteiro Júnior
CONTATO: (86) 99927-4057
EMAIL: doroteufilmes@gmail.com
SINOPSE: Sujeito calado e solitário, Eliseu estala cada parte do corpo. Como estátua humana nas praças, ressignifica a si mesmo por meio da arte. Quando uma jovem bailarina cruza seu caminho, memória e fantasia se entrelaçam.
NOSSA OPINIÃO
O filme “Estalos“, de F. Monteiro Júnior, através da ficção, condensa a sensação de deslocamento provocada na vida em corpo a corpo com a cidade. O som é um argumento do curta, provocando estranhamentos e ruídos no desenvolvimento do filme. A matéria principal das cenas é a atuação de Felipe Zahir, que contrasta bem com a figuração de rua espontânea da população cotidiana de Teresina. O corpo do ator é a tela do filme, nos aproximando dos poros e da pele da questão do exílio urbano.
MEDUNA
DIREÇÃO: Cinthia Lages
CONTATO: 86994700868
EMAIL: cinthialages@hotmail.com
SINOPSE:
Meduna: Quem sabe onde está a Loucura?
@meduna_filme
“Um filme leve, delicado, sobre um tema árido e honesto para com a memória do Dr Clidenor”
George Mendes.publicitário
Meduna é um documentário que resgata a história do Sanatório – o primeiro do Brasil, construído para tal finalidade – e que, mesmo fechado há mais de 15 anos, ainda mexe com o imaginário popular. Seu nome, uma homenagem ao psiquiatra húngaro Von Meduna, inventor do eletrochoque, desperta emoções nos moradores de Teresina, impactados por décadas com o lugar. A construção diferente que tudo que a cidade possuía nos anos de 1950, foi apelidada à época de “Taj Mahal piauiense”.Logo, os tratamentos revolucionários à época, atraíram pacientes de famílias mais abastadas de vários estados do Nordeste. Famosos como o escritor e compositor Torquato Neto foram pacientes do Sanatório localizado na zona norte da capital piauiense.
O fundador do Sanatório Meduna, o médico Clidenor de Freitas Santos, era um visionário. Sua paixão por Dom Quixote, a obra prima de Cervantes, teve influência no sonho de construir o hospital para doentes mentais. O documentário ouve familiares do psiquiatra, ex-funcionários, médicos que trabalharam na Instituição e ex-pacientes. O outro lado do sonho de um hospital que rompeu tabus ao introduzir o conhecimento científico para tratar doentes mentais vem das palavras de quem vivenciou as internações, foi submetido aos choques e relembra os momentos que marcaram todas essas vidas. Lembranças que doem e deixam sequelas.
Serviço
Meduna – “Quem sabe onde está a loucura? “
Duração: 62 minutos
Realização: Rey Produções
Roteiro e direção: Cinthia Lages
Produção Executiva: Amália Chaves
Direção de Fotografia e Colorização: Vini Luz
Montagem e Edição: Vini Luz
Trilha Sonora Original: Iago Guimarães
Jenipapo Studio
Redes sociais
@medunafilme – Imajyn Branding Studio
NOSSA OPNIÃO
100 mil pessoas do Norte e do Nordeste transitam pelas lembranças evocadas no documentário “Meduna”, filme de Cinthia Lages, que aborda o extinto sanatório de mesmo nome do título. O filme tem um apelo informativo, recriando cenários históricos sobre as marcas e os traumas deixados pelo hospital na trajetória da psiquiatria no Nordeste. “100 mil pessoas“ em deslocamento entre regiões do Brasil demarcadas
pelo exílio de milhares de pessoas em busca de sobrevivência – essa é a imagem mais forte do filme, que aparece em formato de texto nos instantes iniciais do longa. A loucura é uma linguagem, dentre tantas, carregada por tudo aquilo que é dito como humano. O filme, enquanto linguagem, escolhe enquadrar as ruínas de uma instituição que testemunhou o retrato da saúde de um povo atravessado pelas desigualdades sociais impostas no interior do Brasil.