Avôa
De onde brota o amor entre homens negros? Viajar, como faz um pássaro no céu, de volta aos registros de família é o ponto de partida de ‘’Avôa’’ de Lucas Mendes. O gesto de recolher arquivos familiares soma-se ao movimento que uma diversidade de cineastas pretes tem feito na contemporaneidade: a busca pela sua ancestralidade como fonte de encantamento e nutrição das memórias negras recriadas no presente. O afeto entre neto e avô é o laço que faz o filme nascer.
O Laçar do Boi
Orbitamos a força das narrativas que giram em torno de Seu Manezinho: entidade do Tambor de Mina Maranhense que se fortalece nas celebrações de São João. A matriz do filme tem assentamento nos depoimentos que contam histórias do sagrado, documentando ações vividas em outro tempo: o tempo do mistério, onde o boi brinca pelos terreiros do invisível.
O Último Tiro
Afastar a morte através do corpo-imagem é o que ‘’O Último Tiro’’ de Marcus Cidreira faz, conjurando versos de cura à beira-mar. A aparição negra que caminha na praia dobra elementos do céu, da terra e do mar, vertendo uma suave revolta através das sensações espelhadas no curta.
As Paneladas
Mulheres, dia e noite, alimentam cidades inteiras. O filme ‘’As Paneladas’’ nos aproxima de vivências imateriais ligadas ao ato de comer, na região das ‘’paneladas’’ de Imperatriz. A fartura produzida pelas mulheres gera nutrição, disputa e culturas vivenciadas na contradição cotidiana dos centros urbanos. A panela, a comida e as pessoas se apresentam como seres de uma espacialidade remontada no curta-metragem.
Lealdade
De que lado você dança?‘’Lealdade’’ registra um microconto, entre três mulheres negras que se encontram para relembrar danças e festas maranhenses. O embate entre raízes portuguesas e afrodiaspóricas, incorporado pelo Tambor de Crioula e as Danças Portuguesas, é incendiado pelo curta.
Avôa, de Lucas Mendes
As representações de carinho surgem nas miudezas da memória. A partir de composições musicais e gestos singulares garimpados de arquivos de família, Avôa vagueia pela reflexão de como os homens negros se (re)colocam no mundo e como suas liberdades na demonstração de seus afetos foram sequestradas pela violência imposta há séculos. A rede, a mesa e as lacunas preenchem a tela delicadamente, balançando nosso olhar para a releitura de um passado familiar e para uma nova dança do futuro.
O Último Tiro, de Marcus Cidreira
A contraposição imagética de um corpo negro vivo versus brancas mármores esculpidas carrega a força precisa e poética da insurreição dedicada à Marielle, o menino Miguel e suas histórias abreviadas por “caçadores de almas e líderes”. O curta atravessa o céu e a água como uma flecha e percorre mares e cemitérios em busca de novos sentidos para as flores.
Lealdade, de Ana Stela Cunha e Milla Negrah Avelar
Água e fogo dançam juntos movendo o passado. Uma luz se lança na janela do quarto que guarda roupas, discos e tradições de um povo colonizador e violento. Lealdade ilumina de forma singela um debate potente que sobre recordações e costumes, todos a ponto de serem rompidos após séculos de um desleal apagamento.
O Lançar do Boi, de Gleyzer Azevedo
Repleto de frases e ditos encantados, uma estrada maranhense se acende em torno do boi pequeno, Seu Manezinho e diversas vozes de um terreiro de Tambor de Mina que ecoam a bravura em O Lançar do Boi. O filme é um precioso presente da oralidade que reconstrói imaginários. Antes de resolver os enigmas da vida, se canta.
As Paneladas, de João Luciano
As raízes gastronômicas de Imperatriz se misturam com a identidade cultural maranhense. Recordações sensoriais de um povo que fez do prazer de comer, do sabor e do cheiro da panelada, um prato, um sustento e um patrimônio imaterial. O curta-metragem apresenta os simbólicos testemunhos de cozinheiras que ocupam o protagonismo de espaços públicos madrugada adentro, preparando um prato ancestral, marcadas por perseguições e preconceito.
A Morte da Mímica, de José Quaresma
A costura cênica dos atores, atravessados por uma dramática musicalidade e construção sonora, dão o tom do curta-metragem. Silêncios barulhentos e narrativamente gesticulados. Um delicioso balé de tiradas e suspiros sutis, um deleite clown preto e branco e colorido.
Hortelã, de Thiago Furtado
Amores difíceis se derramam entre as águas das folhas de hortelã em busca de alguma calmaria e cura. Com belas imagens num delicado roteiro sobre classes, afetos e fim dos ciclos, Thiago Furtado mergulha em uma história de família e amor com sotaques e interpretações únicas.
Quilombo Esperança, de Wilderlanney Soares
Sob a violência do colonizador que permanece por perto, a palha de arroz, o barro e um povo foram sequestrados para a construção de uma cidade que virou as costas para seus rios e para as famílias que dele vivem. Wilderlanney Soares costura ruídos, paisagens e depoimentos de lideranças originárias que caminham com sabedoria por temas como pertencimento, tecnologias ancestrais e a luta pela terra de um dos maiores quilombos urbanos do Brasil. Boa Esperança é a resistência vazante.
Amarrado, de Lucas Coelho Pereira
Do mangue vem a fumaça espessa e o toque certeiro de mãos que habitam cordas, sonoras e visuais. Com bela música e uma fotografia que se suspende no tempo, Amarrado encontra um rio e passeia por dentro dos homens de falas precisas, seus encantos e nós.
Gorete Canivete, de Rivanildo Feitosa
A energia da verdureira Gorete Canivete do Mercado da Piçarra atravessa uma comunidade de feirantes que celebram a sua rara e pulsante vida. Os corredores do mercado e das ruas do centro de Teresina são guiados pela música de época, causos noturnos e depoimentos de amigos e da lenda viva, como uma Num si pode.
Amola coco- Tassio Serêjo
Cantar, dançar e trabalhar o coco são gestos que gingam unidos à vida das quebradeiras de coco. Em ‘’Amola coco, de Tassio Serêjo’’, a musicalidade e os versos dos cocos acompanham paisagens e cenários de uma comunidade de quebradeiras.
Contrato Assinado – Cleiton Santos
‘’E a caneta não vai parar nem com contrato assinado’’ – Jaísa Caldas e Carmen Kemoly rimam um reggae de resistência e autonomia das mulheres pretas, manifestando suas narrativas em meio aos cenários de Timon (Maranhão).
Coração Do Loko Part. II – DM Beatz
O corre da noite é o palco dos conflitos sentidos pelo coração do loko. Bruno Loko rima angústias vividas pelas ruas, postos e bares de Timon. O corpo a corpo do hip hop com a cidade movimenta as cenas do videoclipe em direção aos dilemas da noite,
Bia e Os Becks – Panela de Pressão (Clipe Oficial)
Um plano sequência marca desejos, bailados e sabores entre paredes. Em uma panela de pressão, Bia e Os Becks movimentam o calor que aquece narrativas de paixão e sonho.
LEVITA- Destina (Videoperformance Oficial)
Levita pincela cenas vermelhas com riso e fumaça na videoperformance ‘’Destina’’. O corpo de Levita transmuta letras enfeitiçadas, conjurando gestos de poder sob as luzes do dia e da noite.
Carolina Maria dos Santos é Roteirista e estudante de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Possui formação em Roteiro pelo Centro Afrocarioca de Cinema (RJ). Curadora na I Mostra CineAfromar (MA) trabalha também como professora de roteiro e linguagem audiovisual. Pesquisa sobre Cinema Negro e faz parte da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro). Como roteirista de não-ficção e ficção infanto-juvenil ganhou prêmios no Películas Negras LAB (BA/Saturnema Filmes) e no Festival Cabiria (RJ).
Roteirista, pesquisadora e diretora desde 2012. Foi diretora-assistente, pesquisadora e roteirista da série documental “Favela Gay – Periferia LGBTQIA+” (2020) para o Canal Brasil, produzida pela Luz Mágica. Foi pesquisadora e assistente de direção dos documentários “Henfil” (2017) e “Abrindo o Armário” (2017). Atualmente é professora-convidada na Universidad del Rosario – Colômbia, foi professora-convidada na pós-graduação do IED-RJ e tutora de oficinas de cinema nas áreas de pesquisa, roteiro e direção. Em 2020 foi selecionada para Bolsa Paradiso da Maestría en Escritura Creativa, ministrada pela Escuela Internacional de Cine y Televisión (EICTV) de San Antonio de los Baños, em Cuba, onde escreveu seu primeiro roteiro de longa-metragem de ficção. É natural de Teresina, Piauí e atualmente vive em Porto Velho, Rondônia.