UMA PONTE, UMA APOSTA, UMA MOSTRA

Piranhão nasce audaciosa, inédita, com a força de muito desejo. Uma Mostra que se propõe ponte, entre estados que estão geograficamente lado a lado, Piauí e Maranhão, de cenários tão semelhantes em alguns aspectos e tão destoantes em tantos outros. Para se tornar possível, só mesmo por meio das mãos de muita gente, como costumam ser as nossas criações no Cinema – principalmente, as independentes. Aqui, de antemão, é fundamental mencionar que esta curadoria acredita e defende a potência artística e cultural presente nesse modus operandi, onde a fórmula de cinema é composta de compartilhamento de ideias e forças diretamente ligadas ao desenvolvimento da linguagem. 

É nesse sentido também que fundamentamos nossas escolhas no ato de curar, em sincronia com as reflexões da Mostra sobre os modos vigentes de produção, difusão e formação em cinema e audiovisual no Piauí, no Maranhão, no nordeste e no país. Observamos e reconhecemos as especificidades das nossas formas de fazer, assim como as características culturais e territoriais somente atribuídas a esta região do mapa, cientes e atentos à luta das imagens e de narrativas frente a estereótipos ainda atrelados ao recorte espacial que forja uma ideia plana e reduzida de Nordeste, limitada a uma estética regionalista.

Nossos territórios são ameaçados constantemente pela ideia de progresso materialista/consumista de grandes empresas e políticos, que agridem o meio ambiente e provocam o apagamento da memória de povos originários e em diáspora que aqui resistem. Nossos saberes culturais são passados de geração para geração, persistindo e se modificando com a velocidade em que o mundo se transforma, em que a sociedade avança e retrocede. A ancestralidade, por sua vez, tecnológica, cria conhecimentos que se transmutam em linguagens inimagináveis, vistas também em obras de artistas mediadores das visualidades por meio do cinema e do audiovisual. 

 

Não à toa, nossa primeira edição propôs uma curadoria de obras a partir dos eixos “memória, identidade e decolonialidade”, a fim de lançar olhar aos trabalhos que trazem em seus modos de fazer e histórias, suas formas de existir em resistência, que questionam vias estabelecidas e reivindicam lugares, de formas explícitas ou não. Trabalhamos no ensejo de obras que abordam as complexidades das identidades de quem aqui habita, dos rastros e fronteiras espaciais e simbólicas, e também da relação com um país que rejeita sua extensa e diversa territorialidade. Obras que alinham estética com o desejo de autenticidade, que têm a busca por identidade presente na forma e conteúdo, que faz do realizador um sujeito mediador para o fortalecimento de saberes, histórias e ideias do nosso tempo, e assim, também um agente ativo e transformador da sociedade. Obras que tragam novas perspectivas ou que são capazes de subverter o olhar sobre o já visto, o já falado, o já dito, dando-lhes novos contornos, nos fazendo lembrar que o cinema carrega a capacidade de (re)criar, (re) construir e (re)escrever a memória.

Abertos ao princípio do movimento, comum à espacialidade do mote da mostra – a ponte – , investigaremos também as aproximações, justaposições e dissonâncias entre obras piauienses e maranhenses, buscando as linhas de força presentes nessas produções.

curadoria e equipe

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Renata Fortes

Renata Fortes é realizadora audiovisual, fotógrafa, artista visual e produtora cultural. Graduada em Comunicação Social – Jornalismo (UFPI) com especialização em Direitos Humanos (FAR – Teresina/PI) e curso técnico em Realização Audiovisual pela Escola Pública de Audiovisual da Vila das Artes (Fortaleza/CE).

No Cinema e no Audiovisual (desde 2017) possui contribuições em filmes (curtas e longas), videoclipes, séries e webséries, principalmente no Piauí e Ceará – lugares de origem e que habita em trânsito desde 2019 – , atuando como Direção/Assistência de Fotografia, Direção, Still, Continuidade, Roteiro, Produção, Montagem e Curadoria.

Atualmente, integra a equipe curatorial do Festival do Minuto e Minuto Escola. Como júri universitário, participou do Cine Ceará 2020.
Também têm idealizado, desenvolvido e participado de projetos sociais de ensino da fotografia, cinema e audiovisual, como o projeto Boi na Lente, contemplado no Prêmio Marc Ferrez de Fotografia 2021 (Funarte) e projeto Mulheres em Foco (Numen Produtora), nos quais também realizou a função de curadoria em fotografia.

Renata também possui histórico de criação para as artes visuais, arte urbana, dança, performance, teatro e música, criando para artistas e festivais (como o Junta Festival Internacional de Dança), para canais de televisão (como Canal Futura) e institutos culturais (como Instituto Tomie Ohtake).

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Weslley Oliveira

Teve seus primeiros contatos com cinema na universidade e por meio de cursos técnicos na Casa da Cultura de Teresina. Em 2015 ajudou na criação do selo LABCINE, hoje Labcine Filmes, cujo principal foco era o fomento e realização audiovisual local. Através de núcleos de produção do selo, realizou um longa e mais de vinte curtas, entre ficções, documentários, videoclipes, institucionais, selecionados e premiados em diversos festivais pelo mundo. Produziu diversos conteúdos para canais de tv como Futura e plataformas de streaming como Globo play, Itaú cultural play, Spcine play e Originou. Também já ministrou oficinas e minicursos de realização audiovisual para crianças, jovens e adultos de comunidades periféricas do norte/nordeste e foi curador no I Festival Humana de Cinema.

Amanda Drumont

Amanda Drumont é produtora com experiência nas áreas de produção cultural e audiovisual, curadoria e assessoria de comunicação.

Trabalhou recentemente como curadora do Festival de Cinema da Ilha (2022) e como curadora e jurada no ROTA, Festival de Roteiro do Rio de  Janeiro (2021 e 2022). Atualmente é produtora audiovisual atuante na empresa SobreOTatame Filmes, que realizou o documentário “Amo, Poeta e Cantador: murais da memória pelo Maranhão”.

Formada em Roteiro Profissional pelo Instituto de Cinema (SP) e em Produção Cinematográfica pela Escola de Cinema IEMA (MA).

realização